segunda-feira, 22 de abril de 2013

A despedida


A última noite não foi nada fácil para nós dois. 
A última imagem, em 20/04/2013
O incômodo já era grande demais e as patas
dianteiras também perdiam a força. Fiz macarrão com cenoura e espinafre para ele e coloquei um sachê de carne junto. Anúbis, que adora macarrão, comeu aos poucos. Foram três tentativas com intervalos de pelos menos meia hora até ele terminar de comer uma porção pequena, e que até algumas semanas antes,
devoraria em um só bocado. Dos mais de 23kg que ele pesava quando a doença começou, em meados de janeiro, ele já estava com 19,2 kg. Incrível que mesmo tendo emagrecido e com quadro de dor ele continuava lindo, com pelo sedoso e orelhas atentas.

Surgiu também uma secreção nos olhos. Parecia que o corpo dele perdia toda a hidratação e o estômago estava um pouco inchado. A noite de domingo para segunda foi incômoda para ele. Notei que mesmo eu tendo colocado uma almofada sob a cabeça dele para facilitar a respiração, ela era difícil. Acordei duas ou três vezes ouvindo-o ofegante.

Logo cedo, Anúbis tomou bastante água, comeu um pedaço de queijo meio sem vontade e fomos até a clínica veterinária. Lá, ele nem mais os ombros quis levantar. Levantava só o pescoço e demonstrava muito cansaço.  A veterinária disse que clinicamente o quadro dele piorara muito e que agora já não era somente o problema da mobilidade. Que mesmo tomando água suficiente, o corpo já não estava mais aproveitando. O estômago inchado e as fezes como pedra mostravam sinais de os rins estarem em processo de falência e que o pulmão dele já estava começando a sofrer pela falta de mobilidade.

Ela não poderia afirmar quanto tempo ele teria de vida, mas disse que a mobilidade não se reverteria, nem parcialmente e o risco de eu chegar um dia em casa e ele ter morrido sufocado seria cada vez maior. Diante da agonia de morrer sufocado e cheio de dores e a possibilidade de propiciar uma passagem mais tranquila para ele, fiz a segunda opção. A veterinária me garantiu que o processo de eutanásia seria indolor e que o corpo dele seria tratado com respeito. Então, às 9h do dia 22 de abril, eu me despedi dele.  Acho que o mais difícil em tudo isso foi o fato de que a cabecinha dele estava muito boa. Totalmente consciente, atento e reagindo a tudo que acontecia. Isso complica muito na hora da decisão. Pareciam dois cães. Um do pescoço para baixo, quase inerte, e outro do pescoço para cima, esperto como sempre foi. Obrigada por tudo Anúbis, por quase 12 anos de muito carinho e companhia.

domingo, 21 de abril de 2013

Alteração no quadro

Depois de se divertir alguns dias a bordo do seu Fórmula 1, o quadro do Anúbis apresentou piora significativa. Ele já não conseguia mais se sustentar sentado. Assim como quando ele parou de andar, foi de uma hora para outra. Eu o colocava sentado e ele caía. Estava paralisado das axilas para baixo, sem fome e sem vontade de tomar água. Mexia as patinhas dianteiras, mas não levantava.

Foram dois dias assim, praticamente sem se mexer e comendo pouco.  Como ele não melhorava resolvi levá-lo a clinica veterinária, na manhã seguinte. Acho que eu protelei dois dias porque receava receber o diagnóstico final.  Na noite anterior dormi na sala, pois levá-lo para o andar de cima da casa seria muito sacrificado para nós dois.  Deixei-o comer tudo que ele gosta: fiz macarrão com cenoura e brócolis, sachê de carne, queijo branco e dei até um pedaço de bolo de milho caseiro.

Acordei toda torta na manhã seguinte por ter dormido no sofá. Lá fomos nós até a clínica veterinária. Havia duas possibilidades de diagnóstico: a doença ter piorado e comprometido mais áreas da coluna ou ele estar em uma crise de dor.

Coquetel de remédios


Duas semanas com um coquetel de remédios iriam dizer.  No total eram 11 comprimidos por dia, pois dois remédios precisavam de três doses diárias e ele precisava também de protetores gástrico e intestinal para aguentar a dose: corticoide e até um remédio a base de morfina para passar a dor.

Nos primeiros dias ele se animou, comeu bem melhor e tomou bastante água. Eu o colocava em posição de esfinge para poder comer e beber, e assim ele ficava. Era a posição que menos comprometia os sistemas respiratório e cardíaco. Essa fase implicou em uma nova mudança na minha rotina, pois eu precisaria passar mais vezes em casa, principalmente para dar água para ele. Foi muito complicado. Se por um lado ele não se arrastava mais pela casa toda derrubando tudo, por outro eu precisava ficar mais em casa principalmente por causa da água.

A veterinária deu poucas esperanças de ele voltar a sentar. Disse que mesmo que isso acontecesse ele ficaria menos bagunceiro. Segundo ela, a fase de se enganchar nos móveis e rasgar constantemente a fralda era uma espécie de “revolta”. Que agora ele já estaria se acostumando com a nova condição.

Música para relaxar


O comportamento do Anúbis oscilou muito nesses dias. Havia momentos em que ele parecia animado, esticando o pescoço quando eu abria a porta de casa, enquanto em outros ficava olhando para o nada sem se mexer.  Algumas noites ele ficava quietinho enquanto em outras eu o ouvia mexendo as patas dianteiras tentando ganhar impulso para levantar, mas sem sucesso.

Para diminuir o tédio, quando saía de casa, passei a deixar um CD tocando.  Ele ganhara da antiga passeadora um CD chamado “Relaxing Dog”, com músicas especialmente compostas para a audição canina misturadas com sons da natureza, e que prometia acalmar o animal. Anúbis parecia gostar.

Se por um lado ele se sujava bem menos e não fazia mais bagunça, eu precisava estar mais presente.  Preocupavam-me os dias em que eu teria de ir para São Paulo e passar muitas horas fora. Ele ficaria muito tempo só, principalmente sem tomar água. Mas a veterinária disse que seu eu garantisse duas boas doses de água por dia, uma pela manhã e outra à noite ele ficaria minimamente hidratado.

Foram dez dias nessa rotina. Ainda bem que em uma época que eu pude me ausentar apenas em períodos mais curtos. Mas nem sempre seria assim.  No final da primeira semana ele piorou um pouco. Para ficar em posição de esfinge precisava agora ser ancorado pelas almofadas. A antiga passeadora emprestou uma almofada em forma de “rolinho” que eu alinhava com a coluna dele para deixá-la o mais ereta possível, quando ele estava deitado.

Liguei para a veterinária e ela pediu para levá-lo no fim da semana seguinte. Não deu tempo de esperar, pois o estado de saúde dele piorou. No sábado, como ele estava amuado, decidi deixá-lo observando o movimento no condomínio. Deixei a porta da casa aberta e o coloquei deitado em um edredon em posição que ele pudesse ver bem a rua, já que moramos em uma casa estilo americano, sem muros, nem portões.

Cachorros e crianças


Deixava-o sempre com a cabeça em cima de uma almofada alta para facilitar a respiração e o virava de tempos em tempos. Nem a criançada brincando na rua, nem outros cachorros passeando pelo condomínio o animaram muito. As fezes e a urina também mudaram.  Fezes muito escuras, secas e duras como pedras. A urina voltou a ficar presa na bexiga como nos primeiros dias da doença dele, em janeiro. Mas, dessa vez, não foi necessária a sonda.  Na hora de trocar a fralda, eu comprimia a bexiga dele até esvaziar.

No domingo a situação piorou, pois ele passou a se automutilar, talvez por estresse, talvez por dor. O corpo já tinha escaras dos dois lados e a lambedura foi tão intensa que ultrapassou as camadas de pele deixando uma mancha em carne viva. Passei óleo de amêndoa nas lambeduras e um óleo especial nas escaras.

Duas semanas antes eu havia feito uma pequena cirurgia no rosto e estava usando um óleo especial para cicatrizar sem deixar marcas. Como o vidro era grande, resolvi dividir o remédio com Anúbis, passando esse mesmo óleo nas escaras na altura do fêmur.  Vi que não daria para esperar o prazo dado pela veterinária. Resolvi levá-lo novamente na manhã seguinte.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

“Acelera” Anúbis!


O blog do Anúbis fez mais sucesso do que eu esperava. Em dois meses ele teve mais acessos do que o meu em um ano e meio. Graças à grande quantidade de compartilhamentos pelo Face e à minha amiga Carolina Rubinato que divulgou um release sobre o blog em alguns veículos de comunicação, com o intuito de ajudar quem passa pela mesma situação. Só em uma comunidade sobre saúde animal foram 140 compartilhamentos.

Um grupo que vem acompanhando de perto e torcendo muito por ele é o Turismo 4 Patas. Um pessoal divertido que faz esportes de aventura levando seus cães junto. Eu mesma já fiz rafting com a Raposinha junto com eles. Anúbis, inclusive, ficou doente dois dias antes de fazer uma trilha pela Mata Atlântica com o grupo.

Anúbis e a madrinha Aglaé
E foi justamente a Aglaé, uma simpatizante do 4 Patas, quem fez toda a diferença na história do Anúbis. Ao ler as a aventuras dele no blog, ela me procurou oferecendo um vet car que havia sido de uma rotweiller de uma amiga dela e que já falecera.

Vet car é o melhor carrinho para cães que existe. Sua ergonomia permite que, além de andar apoiado, ele
faça alguns exercícios de fisioterapia. Não acreditei quando li a mensagem. Tive de ler pelo menos duas ou três vezes para crer que era verdade. Anúbis de vet car! Para ser perfeito tinha de servir e a Aglaé morar em uma distância razoável. Apesar de que eu pegaria esse carrinho nem se fosse do outro lado do País. Fizemos contato e não podia ser mais perfeito. Era só pegar a
estrada e em 20 minutos eu estava na casa dela em Alphaville , em Barueri, município próximo a Cotia, onde moro.

Banhinho tomado, fraldinha limpa, escova nos pelos e lá fomos nós até Alphaville.  Eu fiz questão de levá-lo para que Aglaé o conhecesse e visse que todas as histórias do blog correspondiam à realidade. Foi empatia a primeira vista. Lembrando que Anúbis é um pouco resistente no primeiro contato. Que nada. Permitiu até ganhar um beijinho na testa (confesso que nesse momento perdi o fôlego com medo de ele mordê-la no rosto).

Sob medida

E veio o carrinho. Absolutamente perfeito. Parecia feito para ele. O colocamos com todo cuidado acreditando que ele precisaria de um tempo para se adaptar. Que nada! Mal fechei a última correia ele saiu em disparada com o carrinho pela rua. Assim como aqui na Granja Viana (Cotia), em Alphaville as casas são praticamente todas dentro de condomínios e não costumam ter muros nem portões. Anúbis desceu a rua como se fosse morador de Alphaville  há anos. Entrou no jardim alheio sem cerimônia. Ele estava eufórico e parecia sorrir. Foi difícil conter as lágrimas de ver tanta vivacidade nele.  Com o carrinho, Anúbis começava a redescobrir o mundo, de um jeito diferente.

Para dar melhor sustentação à estrutura do carrinho – feita em alumínio especial muito leve e resistente – as rodas são grandes e ficam afastadas do corpo do cão. Com isso, Anúbis não tem muita noção da sua nova largura. “Enroscar” em plantas, pés de mesa e na porta se tornou comum.



Anúbis ficou empolgado com a novidade. Andou e correu tanto que dormiu a tarde toda. Nos dias subsequentes se arrastava até o carrinho e ficava sentado me olhado como quem diz: você não vai me levar para passear? Como as ruas da Granja são antigas estradas vicinais urbanizadas, calçadas aqui não são encontradas com muita facilidade e muitas das que existem são bem estreitas.

Diante disso seria, pelo menos nos primeiros tempos,   recomendável andar somente dentro do condomínio. Quando as crianças deixam, pois chegar a qualquer lugar com um cão de cadeira de rodas é chamar a atenção para muitas perguntas e conversas.

O carrinho só pode ser usado uma pequena parte do dia (uma veterinária recomendou, no máximo, três horas por dia para o Anúbis) Isso porque o cão – principalmente quando de porte maior – não consegue deitar usando o carrinho.  “Acelera” Anúbis! Vai que o mundo é seu!

terça-feira, 9 de abril de 2013

A escolha do carrinho


Definida a situação de que Anúbis não voltaria mais a andar, chegou o momento de providenciar uma cadeira de rodas canina para ele. Outra maratona. As fábricas não ficam em São Paulo. A mais perto que achei era a quase 400 km. Elas mandavam uma ficha para preencher com as medidas do cão e depois mandavam o carrinho pelo correio. Não ficou bom? Problema do dono que “não tirou as medidas” direito. Isso era bem claro na maioria dos sites.

Investimento alto – em média R$ 800 reais para amargar um produto sem troca caso não se ajustasse ao cachorro. É certo que todos eles vêm com alguns parafusos para apertar mais ou soltar um pouco dando certa flexibilidade de tamanho ao veículo, mas confesso que fiquei receosa. Continuei procurando até que achei duas opções: fazer um carrinho em casa ou contar com a boa vontade de uma veterinária mineira que criou um carrinho feito com canos de PVC, os quais ela só cobraria material e Sedex, pouco mais de 100 reais. Depois descobri que há outros trabalhos semelhantes mais perto.

Fiquei com medo das medidas não ficarem justas então optei por baixar dois projetos de carrinho pela
Há modelos sofisticados
internet e fazer em casa mesmo. Estudei os projetos, mas vi que seria complicado montar sozinha. Conversei então com um amigo que mora em Jarinu, cerca de 100 km de Cotia e que talvez pudesse me ajudar. Além de ser jeitoso, ele tem um filho especial que anda de cadeira de rodas e para quem ele já teve de adaptar diversos equipamentos.

Além da distância tínhamos um problema de agenda, pois o maior fluxo de trabalho dele é aos sábados e domingos enquanto durante a semana complicava para mim. Decidi então conversar com a veterinária de Minas Gerais e pedir para ela fazer o carrinho para ele. 

E outros bem mais simples
Eu e uma veterinária aqui de Cotia tiramos as medidas dele, mas as duas estavam muito inseguras, pois é difícil medir um animal parcialmente inerte. As patas de trás estavam moles. Qual seria o comprimento certo dessas patas se ele ficasse em pé, entre outras dúvidas. Mandei fazer o carrinho, mas como eu temia, as medidas não bateram. 

Foi um pouco frustrante na hora em que fui experimentar, mas entre os modelos oferecidos eu escolhi o que
foi melhor dentro das minhas possibildades. Isso porque como o carrinho é feito com canos de PVC, se alguma parte não ficou adequada dá para refazer em casa mesmo, o que precisaria ser feito com o carrinho do Anúbis, uma adequação na altura. Outra jogada inteligente dessa veterinária mineira é que ela manda as peças do carrinho apenas encaixadas, então se precisar fazer algum ajuste fica fácil, pois você cola o carrinho somente quando ele já está ok.

A veterinária Renata Cobo faz
carrinhos a preço de custo
Um rapaz que trabalha com cães se ofereceu para fazer o ajuste no carrinho. Ele foi super atencioso, e teve boa vontade diante de outras pessoas que, mesmo podendo, me viraram as costas nesse período. Só que o Anúbis continuava sem mobilidade porque o ajuste feito novamente não deu certo. O que eu não sabia nessa época é que um milagre estava prestes a acontecer.

Projetos de carrinho para fazer em casa:


Vídeos que ensinam a fazer cadeirinhas:


Pessoas que fazem carrinhos a preço de custo:


Fábricas de carrinhos:

http://www.vetcar.com.br/

Páginas no Face sobre animais com problemas de locomoção ou que precisam de fisioterapia:


Dicas de uma outra proprietária de cão paraplégico: