domingo, 17 de março de 2013

O diagnóstico definitivo


Com a acupuntura em andamento começou a nova fase de fisioterapia. Exercícios bem simples foram incluídos na rotina diária dele, além daquele da toalha, já descrito em post anterior:

Teste de sensibilidade: um dos principais pontos de sensibilidade neurológica do cão está entre os dedos das patas. Aquela pele que liga os dedos como se fosse um pé de pato é altamente sensível. Então, todos os dias eu precisaria apertar aquela pele com força. Sem dó, beliscando, colocando a unha para ver se ele encolhia a pata. Não é fácil porque dá pena de doer, mas a proposta é justamente essa provocar dor para que ele tenha reação.

Colher de pau: para que o cérebro não “esqueça” da parte do corpo sem movimento, há um exercício simples de estimulação que dá para fazer até vendo TV: pegar uma colher de pau e dar batidinhas em toda a extensão das patas sem movimento, repetidas vezes por cerca de dois minutos em cada pata.

ativação neural com colher de pau
Abraço nas pernas: outro exercício é tentar “forçar” a sustentação colocando o cão em pé, mas abraçando as patas traseiras esticadas. Ao deixá-lo em pé eu precisava segurar os “joelhos” traseiros dele esticados para “provocar” sustentação.

Nas primeiras sessões de acupuntura havia esperança. Mas com o passar do tempo, a musculatura traseira perdera a consistência e os testes de sensibilidade não davam resultado. Não haveria mais o que fazer. Havia ali dois caminhos a seguir: se desesperar, amaldiçoar e se achar vítima do mundo ou incorporar a novidade e refazer a rotina a partir daí.

De uma coisa eu tinha certeza: eu ia dar a melhor qualidade de vida possível para ele, mas não seria sua escrava. Não iria transformar a minha vida toda em um sacerdócio a ele para depois ficar me achando vítima do mundo. Certamente não foi fácil receber a notícia. Tanto por ele, um cachorro sempre tão ativo, que adorava um espaço amplo para correr como se o mundo não tivesse fronteiras, quanto para mim que teria de colocar mais limitações na minha vida.

A rotina da casa iria mudar, o layout iria mudar, o orçamento iria mudar definitivamente e as minhas escolhas precisariam mudar. Viajar a trabalho não seria mais tão fácil. Até então, quando eram apenas alguns dias, eu pedia para a passeadora trocar comida e água e limpar o quintal. Hotel era apenas no caso de viagens mais longas. A partir de agora tudo seria diferente. Tanto pela troca das fraldas quanto porque ele precisaria de mais assistência. Acordar atrasada, colocar uma roupa rapidinho e sair de casa também se tornou impossível. Haveria a rotina matinal de cuidados.

Correr pela manhã também ficou complicado, eu teria de ou acordar mais cedo do que o habitual 5h30 ou teria de começar a rotina de trabalho mais tarde. Creio que a readequação da atividade física tenha sido o mais difícil para mim, pois moro em um local em que as ruas são estreitas, poucas delas têm calçadas, ainda há muitos terrenos baldios e a iluminação pública é boa em apenas parte das vias. Além dos caminhões que desviam pelas vicinais para não pagar pedágio e para escapar do trânsito das rodovias e do Rodoanel. Correr à noite? Ou trocar a linda paisagem natural e os eventuais encontros com gambás, macaquinhos e pássaros diversos pela tediosa esteira?

Uma questão de “ente-eixos”

Maca-cão
Havia duas opções: reclamar ou resolver. Preferi a segunda. Acionei novamente a minha amiga que veio de imediato. Logo de cara com uma surpresa criativa: ela trouxe um acessório de transporte que ganhara de uma clínica veterinária quando sua doberman ficou tetraplégica: uma estrutura de lona reforçada parecendo uma  maca hospitalar, mas com quatro furos para o encaixe das patas.  A criação fora do dono de um rotweiller que também perdera o movimento traseiro e que, depois de o cão falecido, doara o “equipamento” para a clínica.  Quando olhei o Anúbis dentro , apelidei de imediato a “engenhoca” de “maca-cão”.  Dentro dela ele faria automaticamente exercícios de fisioterapia e poderia ser transportado sem incômodos.

Conclusão 1 (sem embasamento científico): rots, dobermans e pastores mestiços têm “entre-eixos” semelhantes porque o Anúbis se encaixou perfeitamente na estrutura.

Conclusão 2: gente que mora sozinha não pode ter cachorro grande. O “maca-cão” precisava de duas pessoas para carregar. Ou seja, não foi dessa vez que a vida dele ficou mais fácil.

Transporte continuava sendo o maior problema. Já que o uso do “maca-cão” implicaria em eu ter visita em casa, levá-lo de um lado para o outro ainda era dolorido. Para ele e para mim. Uma maneira que parecia fácil de levá-lo – ele não demonstrava sentir dor e as minhas costas agradeciam - , era pegá-lo pendurado pelas quatro patas, como se transporta um animal morto. Ele até parecia se divertir. Até o dia em que eu peguei de mau jeito e destronquei uma patinha dianteira dele.

Um comentário:

  1. Coisinha linda o Anubis, que dó pela patinha dianteira!! Que bom que optou por resolver o problema e nao por reclamar!!! Esses dias conversando conversando com uma amiga, que assim como, adora os peludos, me.disse que os cães se adaptam facilmente a sua nova situação, a gente que sofre por eles, isso me deixou mais tranquila em relação à eles. Vc concorda com essa afirmação? Pergunto para vc, pois vive dia a dia com o principe, rss, e pode me dizer a reação dele, agora que ja passou um certo tempo desde que ficou sem poder caminha!!
    Abraço,
    Gislene.

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