sábado, 9 de fevereiro de 2013

A manhã fatídica


Era manhã de 17 de janeiro de 2013, 5ª-feira. Acordei cedo como de costume – 5h45 – saí para correr. Na volta, fui alimentar os três e ajeitar o quintal. Estranhei quando coloquei a ração do Anúbis e ele não veio correndo, como o bom garfo sempre foi. Estava deitado no quintal, com aquela “cara amassada” de cachorro que dormiu demais.

Nos dias anteriores ele comeu menos e estava meio amuado. Achei que ainda estava “chateado” porque havia ficado sozinho por muito tempo no fim de semana e também nos dias anteriores. Eu havia viajando com a Raposinha para fazer rafting (uma modalidade especial com cachorro) e tive diversos compromissos de trabalho que me fizeram chegar tarde todos os dias naquela semana.

Até que ele levantou e veio. No primeiro passo uma pata caiu. Ele a levantou. No segundo passo caiu a outra pata. No terceiro caíram as duas e ele não levantou mais. A quantidade de pensamentos que me veio na cabeça naqueles 30 segundos foi assustadora, mesmo para alguém hiperativa como eu.

Primeiro pensamento: displasia (por ter a mãe pastora). Segundo pensamento: levar ao veterinário. Ele só gritava e eu não sabia como pegar aqueles 25 kg com a traseira inerte e colocar no carro sozinha. Sem focinheira, ele se debatia e tentava me morder cada vez que eu tentava tocá-lo. Com a ajuda de um cobertor para proteger os meus braços, o coloquei desajeitadamente no porta-malas, devidamente adaptado para o transporte dos cães. Foram minutos terríveis porque eu tentava levantá-lo do chão e ele não deixava, gritava, se debatia e tentava morder. Tirá-lo do carro foi outro drama. Eu não sabia onde doía e tinha medo de pegar de qualquer jeito e ele cair.

Na mesa de exame ouvi o diagnóstico inicial: coluna e recebi o pedido para fazer um raio-X. É curioso como essas situações fazem com que não consigamos raciocinar com clareza. Parecia que um lado do meu cérebro sabia que era algo mais. Afinal Felipe Wanderley tivera problemas de coluna no ano anterior e as patas dele ficaram duras e esticadas e não caídas e inertes. Se por um lado essa gravidade me preocupava, por outro eu pensava se até sábado ele se recuperaria, pois iríamos fazer trilha a pé na Serra do Mar com outros cães e seus respectivos donos.

O passo seguinte foi levá-lo ao laboratório para o raio X. Nunca entendi muito bem por que motivo o laboratório veterinário aqui de Cotia fica em uma casa com uma escadaria em curva para subir. A meu ver seria mais fácil, prático e seguro para todos se fosse em uma casa térrea. Apesar da escada, foi um pouco mais fácil porque ele já estava com focinheira. Foi levado em uma maca com a ajuda de um funcionário do laboratório que nitidamente estava morrendo de medo dele.

Na recepção Anúbis, mesmo com dor, queria brincar. Ele tentava se aproximar dos outros cães que esperavam para ser atendidos. O raio-X foi uma operação de guerra. Ele não deixava, se debatia, gritava e por vezes quase caiu de cima da mesa. Confesso que perdi o controle e, em alguns momentos, em vez de tentar acalmá-lo, eu briguei com ele.

Peguei o exame e voltei para o veterinário. Não havia funcionário disponível no momento para me ajudar na escada então resolvi pegá-lo no colo e encarar a descida sozinha. Cada passo eu morria de medo de cair com ele no colo.

De volta ao veterinário, o exame mostrou um diagnóstico dúbio: ao mesmo tempo que indicava sete bicos de papagaio – como tivera Felipe Wanderley no ano anterior – havia uma desconfiança de neoplasia, uma espécie de câncer ósseo.

Ouvi quatro opiniões diferentes nesse dia. Alguma contraditórias em relação à gravidade e à origem da paralisia. Naquele momento percebi também as minhas limitações em relação ao tratamento dele. Tenho uma pequena empresa em casa, ainda em fase de estabilização financeira. A doença surgiu em janeiro, uma das piores épocas para o meu tipo de trabalho. Este ano, para piorar, tudo aconteceu a um mês de eu ser submetida a uma cirurgia que me levaria a 40 dias de repouso absoluto.

Ficou claro naquele momento que não poderia avançar muito com o tratamento. Para saber a fundo o que houve com ele seria necessário uma tomografia com preço chegando perto dos R$ 1 mil reais e uma cirurgia na coluna para poder colher material e mandar para exames. Ou seja, para diagnosticar detalhadamente eu gastaria pelo menos três mil reais além do tratamento já em curso.

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